domingo, 27 de julho de 2008

17º Domingo do Tempo Comum-Ano A

Evangelho São Mateus; 14;44-52

«Vendeu tudo quanto possuía para comprar aquele campo»

Concluímos, neste domingo, a leitura do capítulo dedicado às “parábolas do Reino” (cf. Mt 13). Nele, recorrendo a imagens e comparações simples, sugestivas e questionantes (“parábolas”), Jesus apresenta esse mundo novo de liberdade e de vida nova que Ele veio propor aos homens e ao qual Ele chamava Reino de Deus.Concretamente, o nosso texto apresenta-nos três parábolas que são exclusivas de Mateus (nenhuma delas aparece nos outros três evangelhos considerados canónicos. No entanto, as três aparecem num texto não canónico – o Evangelho de Tomé – embora aí apresentem notáveis variantes em relação à versão mateana): a parábola do tesouro, a parábola da pérola e a parábola da rede e dos peixes.Para enquadrarmos melhor a mensagem aqui proposta por Mateus, devemos ter em conta a realidade da comunidade a quem o Evangelho se destina… Estamos no final do primeiro século (anos oitenta). Passaram-se mais de trinta anos após a morte de Jesus. O entusiasmo inicial deu lugar à monotonia, à falta de empenho, a uma vivência “morna”, pouco exigente e pouco comprometida. No horizonte próximo das comunidades cristãs perfilam-se tempos difíceis de perseguição e de hostilidade e os cristãos parecem pouco preparados para enfrentar as dificuldades. Mateus sente que é preciso renovar o compromisso cristão e chamar a atenção dos crentes para o Reino, para as suas exigências e para os seus valores. As parábolas do Reino que hoje nos são propostas devem ser lidas neste contexto.

MENSAGEM

O texto do Evangelho deste domingo pode ser dividido em três partes. Em cada uma delas, há aspectos e questões que convém pôr em relevo e ter em conta.Na primeira parte, temos duas parábolas – a parábola do tesouro escondido no campo e a parábola da pérola preciosa (vers. 44-46). Ambas desenvolvem o mesmo tema e apresentam ensinamentos semelhantes.A questão principal abordada nesta primeira parte é a da descoberta do valor e da importância do Reino. Quer a parábola do tesouro escondido, quer a parábola da pérola preciosa, sugerem que o Reino proposto por Jesus (esse mundo de paz, de amor, de fraternidade, de serviço, de reconciliação que Jesus veio anunciar e oferecer) é um “tesouro” precioso, que os seguidores de Jesus devem abraçar, antes de qualquer outro valor ou proposta. Os cristãos são, antes de mais, aqueles que encontraram algo de único, de fundamental, de decisivo: o Reino. Ora, quando alguém encontra um “tesouro” como esse, deve elegê-lo como a riqueza mais preciosa, o fim último da própria existência, o valor fundamental pelo qual se renuncia a tudo o resto e pelo qual se está disposto a pagar qualquer preço. Provavelmente, Mateus está a sugerir a esses cristãos a quem o seu Evangelho se destina (adormecidos numa fé morna, inconsequente, pouco exigente) que é preciso redescobrir e optar decisivamente por esse valor mais alto, que deve dar sentido às suas vidas – o Reino. O cristão é confrontado, a par e passo, com muitos valores e opções; mas deve aperceber-se de que o Reino é o valor mais importante.Na segunda parte, Mateus apresenta o Reino na imagem de uma rede que, lançada ao mar, apanha diversos tipos de peixes (vers. 47-50). Na versão apresentada por Mateus, a parábola apresenta um ensinamento semelhante ao da parábola do trigo e do joio (sobre a qual meditamos no passado domingo): o Reino não é um condomínio fechado, onde só há gente escolhida e santa, mas é uma realidade onde o mal e o bem crescem simultaneamente. Deus não tem pressa de condenar e destruir. Ele não quer a morte do pecador; por isso, dá ao homem o tempo necessário e suficiente para amadurecer as suas opções e para fazer as suas escolhas (no Evangelho de Tomé, a versão é diferente: conta a história de um pescador “sábio” que pesca vários peixes, mas fica só com o maior e lança os outros ao mar. Aí, portanto, a parábola da rede e dos peixes apresenta uma mensagem que vai na linha das parábolas do tesouro descoberto no campo e da pérola preciosa. Alguns autores pensam que a versão apresentada no Evangelho de Tomé constitui a versão primitiva da parábola da rede e dos peixes).A referência que Mateus faz (mais uma vez) ao juízo final é uma forma de exortar os irmãos da sua comunidade no sentido de escolherem decididamente o Reino e porem em prática as propostas de Jesus.Na terceira parte do Evangelho que nos é proposto, Mateus apresenta um breve diálogo entre Jesus e os discípulos (vers. 51-52).Neste diálogo temos uma espécie de conclusão de todo o capítulo. Mateus sugere que o verdadeiro discípulo de Jesus é aquele que “compreende”. Ora, “compreender”, na teologia mateana, significa “prestar atenção” e comprometer-se com o ensinamento proposto. Os cristãos são, pois, convidados a descobrir a realidade do Reino, a entender as suas exigências, a comprometerem-se com os seus valores. A referência ao “escriba” que “tira do seu tesouro coisas novas e velhas” pode referir-se aos judeus, conhecedores profundos do Antigo Testamento (o “velho”), convidados agora a reflectirem essas velhas promessas à luz das propostas de Jesus (o “novo”). É nessa dialéctica sempre exigente e questionante que o verdadeiro discípulo encontra o caminho para o Reino; e, depois de encontrar esse caminho, deve comprometer-se com ele de forma decisiva, exigente, empenhada.

ACTUALIZAÇÃO

Ter em conta, na reflexão, os seguintes elementos:• A primeira e mais importante questão abordada neste texto é a das nossas prioridades. Para Mateus, não há qualquer dúvida: ser cristão é ter como prioridade, como objectivo mais importante, como valor fundamental, o Reino. O cristão vive no meio do mundo e é todos os dias desafiado pelos esquemas e valores do mundo; mas não pode deixar que a procura dos bens seja o objectivo número um da sua vida, pois o Reino é partilha. O cristão está permanentemente mergulhado num ambiente em que a força e o poder aparecem como o grande ideal; mas ele não pode deixar que o poder seja o seu objectivo fundamental, porque o Reino é serviço. O cristão é todos os dias convencido de que o êxito profissional, a fama a qualquer preço são condições essenciais para triunfar e para deixar a sua marca na história; mas ele não pode deixar-se seduzir por esses esquemas, pois a realidade do Reino vive-se na humildade e na simplicidade. O cristão faz a sua caminhada num mundo que exalta o orgulho, a auto-suficiência, a independência; mas ele já aprendeu, com Jesus, que o Reino é perdão, tolerância, encontro, fraternidade… O que é que comanda a minha vida? Quais são os valores pelos quais eu sou capaz de deixar tudo? Que significado têm as propostas de Jesus na minha escala de valores?• A decisão pelo Reino, uma vez tomada, não admite meias tintas, tibiezas, hesitações, jogos duplos. Escolher o Reino não é agradar a Deus e ao diabo, pactuar com realidades que mutuamente se excluem; mas é optar radicalmente por Deus e pelos valores do Evangelho. A minha opção pelo Reino é uma opção radical, sincera, que não pactua com desvios, com compromissos a “meio gás”, com hipocrisias e incoerências?• Porque é que os cristãos apresentam, tantas vezes, um ar amargurado, sofredor, desolado? Quando a tristeza nos tolda a vista e nos impede de sorrir, quando apresentamos semblantes carrancudos e preocupados, quando deixamos transparecer em gestos e em palavras a agitação e o desassossego, quando olhamos para o mundo com os óculos do pessimismo e do desespero, quando só nos deixamos impressionar pelo mal que acontece à nossa volta, já teremos descoberto esse valor fundamental – o Reino – que é paz, esperança, serenidade, alegria, harmonia?• Mais uma vez o Evangelho convida-nos a admirar (e a absorver) os métodos de Deus, que não tem pressa nenhuma em condenar e destruir, mas dá tempo ao homem – todo o tempo do mundo – para amadurecer as suas opções e fazer as suas opções. Sabemos respeitar, com esta tolerância e liberdade, o ritmo de crescimento e de amadurecimento dos irmãos que nos rodeiam?

ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 17º DOMINGO DO TEMPO COMUM(adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.

Ao longo dos dias da semana anterior ao 17º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

2. FAVORECER O TEMPO DE SILÊNCIO.Durante o período estival, procure-se favorecer os tempos de silêncio no início das orações, antes das leituras, depois da homilia, depois da comunhão, para permitir a cada um de se preparar para o acolhimento de Cristo, Palavra e Eucaristia. Procurar o Reino é, antes de mais, fazer silêncio para nos deixarmos tocar pela graça.
(Agência Ecclesia)


sexta-feira, 11 de julho de 2008

15º Domingo Tempo Comum

EVANGELHO – Mt 13,1-23

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus

Naquele dia,Jesus saiu de casa e foi sentar-Se à beira-mar.Reuniu-se à sua volta tão grande multidãoque teve de subir para um barco e sentar-Se,enquanto a multidão ficava na margem.Disse muitas coisas em parábolas, nestes termos:“Saiu o semeador a semear.Quando semeava,caíram algumas sementes ao longo do caminho:vieram as aves e comeram-nas.Outras caíram em sítios pedregosos,onde não havia muita terra,e logo nasceram porque a terra era pouco profunda;mas depois de nascer o sol, queimaram-se e secaram,por não terem raiz.Outras caíram entre espinhose os espinhos cresceram e afogaram-nas.Outras caíram em boa terra e deram fruto:umas, cem; outras, sessenta; outras, trinta por um.Quem tem ouvidos, oiça”.Os discípulos aproximaram-se de Jesus e disseram-Lhe:“Porque lhes falas em parábolas?”Jesus respondeu-lhes:“Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos Céus,mas a eles não.Pois àquele que tem dar-se-á e terá em abundância;mas àquele que não tem, até o pouco que tem lhe será tirado.É por isso que lhes falo em parábolas,porque vêem sem ver e ouvem sem ouvir nem entender.Neles se cumpre a profecia de Isaías que diz:‘Ouvindo ouvireis, mas sem compreender;olhando olhareis, mas não vereis.Porque o coração deste povo tornou-se duro:endureceram os seus ouvidos e fecharam os seus olhos,para não acontecerque, vendo com os olhos e ouvindo com os ouvidose compreendendo com o coração,se convertam e Eu os cure’.Quanto a vós, felizes os vossos olhos porque vêeme os vossos ouvidos porque ouvem!Em verdade vos digo: muitos profetas e justosdesejaram ver o que vós vedes e não virame ouvir o que vós ouvis e não ouviram.Vós, portanto, escutai o que significa a parábola do semeador:Quando um homem ouve a palavra do reinoe não a compreende,vem o Maligno e arrebata o que foi semeado no seu coração.Este é o que recebeu a semente ao longo do caminho.Aquele que recebeu a semente em sítios pedregososé o que ouve a palavra e a acolhe de momento,mas não tem raiz em si mesmo, porque é inconstante,e, ao chegar a tribulação ou a perseguição por causa da palavra,sucumbe logo.Aquele que recebeu a semente entre espinhosé o que ouve a palavra,mas os cuidados deste mundo e a sedução da riquezasufocam a palavra, que assim não dá fruto.E aquele que recebeu a palavra em boa terraé o que ouve a palavra e a compreende.Esse dá fruto,produz ora cem, ora sessenta, ora trinta por um”.