1 – Onde começa a segurança pública?
O tema da Campanha da Fraternidade trata da segurança pública. Por segurança pública entende-se a convivência social, na qual todos temos direitos e deveres, temos a garantia de viver decentemente, respeitando e sendo respeitados. Tudo aquilo que fere o indivíduo e lesa o bem-comum fragiliza a segurança pública. Todas as formas de violências enfraquecem a segurança pública, promovem medo e criam o risco de revanches e de vinganças. O lema da Campanha da Fraternidade – “A paz é fruto da justiça” – demonstra que não se trata, apenas, de criar dispositivos legais – embora sejam altamente necessários – e muito menos armar estratégias violentas para combater violências. O lema aponta um caminho, uma causa e uma conseqüência: só teremos paz na sociedade, (ou então, só teremos segurança pública), se houver justiça entre nós. A segurança pública, que no contexto bíblico pode ser traduzido por paz e justiça, não nasce em escritórios políticos ou policiais, mas no coração de quem cultiva a justiça. Uma pessoa injusta não é capaz de promover a paz.
2 - Anjo e fera duelam dentro de nós
Um dos ensinamentos de Jesus, em Mc 7,20ss, diz que aquilo que torna a pessoa impura não vem de coisas externas, mas daquilo que está no coração. É do coração que nascem as violências, as agressividades, as injustiças, os desrespeitos... O Evangelho deste Domingo ajuda-nos a compreender ainda mais tal dimensão interior quando fala que os anjos serviam Jesus e que Jesus convivia com as feras. Nosso coração pode ser servido por anjos, incentivando-nos a ser justos, ou dominado por feras, incentivando-nos a agir impulsivamente, sem controle, sem pensar, agredindo com palavras ou gestos, tomados por acessos de raivas ou atitudes violentas. Dentro de nós existe o duelo de anjos e feras, do lado bom e do lado agressivo, do lado pacífico e do lado violento. Esse conflito que existe dentro de nós aponta uma alternativa: ou nos deixamos servir pelos anjos, quer dizer, acolher a proposta divina --- ou --- deixamos que a violência cresça dentro de nós e nos torne ferozes (aquilo que é próprio das feras), violentos. Se nossos corações pensam e reagem como feras, não é de estranhar a precariedade da segurança pública em nossas cidades e no contexto nacional.
3 - O caminho do discipulado
As leituras apontam para a importância da educação na justiça e na paz, indicando um modo de aquietar o lado feroz, impedindo que a fera domine nosso coração. O salmista cantava que o modo para isso acontecer é caminhar nos caminhos do Senhor, é conhecer as estradas do Senhor, é se deixar orientar pela verdade do Senhor (...) porque o Senhor dirige os humildes na justiça. A verdade do Senhor, para nós, é o Evangelho. Aqui está a proposta que a Igreja faz a todos nós para que a segurança pública seja marcada pela paz, justiça e fraternidade. O caminho que se abre para nós nessa Quaresma é de deixar-se educar pela justiça e pela paz. Também pais e educadores, formadores de opinião pública, jornalistas, comunicadores... todos são chamados a ser converterem em promotores e educadores da cultura de paz e de justiça. Muita coisa já se faz, mas os efeitos são tão pequenos que se corre o risco de perder a esperança. A Palavra dessa celebração mostra Noé como homem de esperança que, apesar de toda calamidade pela qual passou, confiou e construiu uma arca que foi recompensada pela paz e pela aliança.
4 – Crer no Evangelho é condição da conversão
Nesse 1º Domingo da Quaresma existe um forte apelo à conversão. No Evangelho, Jesus faz um convite direto e claro pedindo que nos convertamos e creiamos na força transformadora do Evangelho. “Convertei-vos e crede no Evangelho”. A Igreja diz que nossa conversão deve refletir na segurança pública, favorecendo o bem comum de toda sociedade. Para a conversão acontecer é imprescindível crer no Evangelho, crer que o Evangelho tem uma proposta de vida capaz de transformar cada um de nós e é capaz de transformar a sociedade. Se é do interior que nascem as coisas menos boas da sociedade, é igualmente verdade que é do coração de cada um de nós que surgem as coisas boas, a justiça e a paz. Crer no Evangelho significa assumir o Evangelho como caminho de vida, como pensamento divino que fala em nós, que pensa dentro de nós. Muitos não entendem o que é conversão (e não se convertem) porque não crêem no Evangelho, não assumem o Evangelho como mentalidade de vida e, desse modo, é incapaz de converter seu modo de pensar com os pensamentos de Deus. Todo convite pode ser aceito ou recusado. Minha sugestão e conselho de amigo e irmão é aceitar o convite de crer que o Evangelho é o modo mais humano de educar-nos na paz e na justiça. Amém!
8Reflexão do Padre Gregório Olapito, SVD)
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