sábado, 21 de março de 2009

Quarto Domingo da Quaresma-Ano B

Evangelho, João 3, 14-21

1 – Alegria pela proximidade da Páscoa

Desde antiga tradição litúrgica na Igreja, a celebração do 4º Domingo da Quaresma chama-se Domingo “laetare”, palavra latina que significa alegria. É o Domingo quaresmal da alegria. Procuramos evidenciar a alegria em nosso espaço celebrativo, colocando aqui alguns símbolos que rompem aquele silêncio espacial que marca os Domingos da Quaresma. [Os paramentos que a Igreja usa nesse Domingo, de cor rósea, é outra manifestação dessa alegria]. Algumas orações de nossa celebração esclarecem que o motivo da alegria é a proximidade da Páscoa. De fato, são apenas duas semanas que nos separam da Semana Santa, quando iniciaremos as celebrações pascais desse ano de 2009. É preciso esclarecer que se trata de uma alegria contida; a exultação da alegria, que explodirá na Igreja, acontecerá na celebração da Vigília Pascal.

2 – Contraste com o tema da alegria

Se o Domingo convida a alegrar-se, a 1ª leitura e o salmo responsorial contrastam esse convite. O início da 1ª leitura relata o sofrimento e a tristeza do povo que vivia no exílio da Babilônia. O salmo é uma lamentação pela tristeza de viver em terra estrangeira, como exilado. A tristeza era tamanha que os soldados que vigiavam o povo pediam canções porque não suportavam ver tanta tristeza. O exílio, que tornou o povo triste, sofrido, saudoso de sua terra, tinha um motivo: o povo deixara de ouvir a voz de Deus, se fizera surdo aos apelos divinos, iniciando um caminho por conta própria. Esta escolha lhe valeu o exílio e a tristeza. A experiência daquele povo serve de alerta para nossa situação social, de falta de segurança pública, como pede a Campanha da Fraternidade, com nossas escolhas de liberdades aparentes, de não ouvir os apelos de Deus e não nos deixar iluminar pela luz do Evangelho. Nosso jeito de viver é arriscado porque nos exila em tristezas, depressões; a sociedade torna-se cada vez mais insegura, violenta... são conseqüências de escolhas pessoais e comunitárias de não ouvir a voz do Senhor.

3 – A esperança e a fé como modo de viver

Mas a tristeza não tira a esperança de Salvação para o povo e essa Salvação será realizada por Deus. É Deus que salva o povo do exílio, diz a 1ª leitura. Na 2ª leitura, Paulo ressalta que a Salvação libertadora é obra de Deus e não resultado de algum esforço pessoal ou político. Jesus dizia a Nicodemos que a Salvação encontra-se na Cruz, mas que existe uma condição para dela participar: crer no Filho do Homem. Crer em Jesus! Crer, para o evangelista João, significa aderir, aceitar, comprometer-se com Jesus e com o seu Evangelho. Significa tornar-se discípulo e viver iluminado pelo Evangelho. Crer, portanto, não é uma teoria, um conjunto de doutrinas, mas um modo de viver. Crer não é uma convicção pessoal de quem diz: “eu acredito em Deus” ou “eu acredito em Jesus”, mas é assumir um jeito de viver: viver fazendo a vontade divina. A pessoa crê quando é capaz de viver iluminada pelo Evangelho. O texto do Evangelho que lemos hoje se inicia com Jesus falando da necessidade de “nascer de novo”. Esse novo nascimento acontece pelo crer; o “nascer de novo” implica na necessidade de um novo modo de viver, que seja iluminado pela fé em Jesus. Na experiência da 1ª leitura, é não se fazer surdo ou indiferente ao projeto divino, pois a conseqüência será o exílio, que o salmista descreve como um estado de grande tristeza e nostalgia interior.

4 – Como é viver crendo em Jesus

O modo de viver a fé, viver crendo em Jesus, tem algumas indicações nas leituras. A primeira delas é ouvir a Palavra de Deus para não se cair no vazio da tristeza interior, como acabamos de dizer. A 2ª leitura destaca o pautar da vida na misericórdia, que se traduz no amor, na justiça e na paz. Do ponto de vista da Campanha da Fraternidade, aqui está um caminho de conversão pessoal, que irá influenciar toda a sociedade, ajudando-a a escolher o caminho da misericórdia, que privilegia acima de tudo, o bem do outro e não o individualismo, que causa tantas agressões à segurança pública em nossas convivências sociais. Outra indicação de Paulo é que fomos criados em Jesus para fazer boas obras. Crer e viver crendo, portanto, tem uma indicação prática: viver fazendo boas obras, viver fazendo o bem, viver promovendo o bem e a bondade. Crer em Jesus é escolher viver no caminho do bem para que a justiça e a paz aconteçam. Uma última proposta para se viver crendo em Jesus está no Evangelho, quando Jesus fala que a luz veio ao mundo, mas que o mundo preferiu as trevas. Viver crendo em Jesus é escolher a luz do Evangelho em todos os momentos da vida e rejeitar as trevas, quer dizer: rejeitar as injustiças, rejeitar as violências, as agressividades, rejeitar a maldade; numa palavra, rejeitar o que nos afasta de Deus e nos impede de ver no outro um irmão ou irmã.

5 – Que caminho seguir?

A Palavra que ouvimos coloca-nos diante de uma escolha com uma única alternativa: ou escolhemos ser atraídos pela Cruz de Jesus e cremos que ele é nosso salvador ou escolhemos as trevas e viveremos no exílio que promove o vazio interior, nos torna tristes e com nostalgia da paz. Qual das escolhas você vai fazer? Amém!

(Pe. Gregorios Olapito, SVD)

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